11.10.05

O hipopótamo

Hoje acordei com uma dor de cabeça daquelas. Coloquei a culpa na pobre da azeitona, sem esconder o sorriso irônico no canto da boca. Por falar em boca, o gosto de cabo de guarda-chuva predominava. Aliás, o guarda-chuva inteiro parecia estar dentro da minha boca. Sentei na cama e olhei, com nojo, para a piscina de baba que estava meu travesseiro. Aquilo me embrulhou o estômago.

Levantei, meio relutante, e fui ao banheiro escovar os dentes e tirar o restante do álcool que ainda permanecia na minha bexiga.

Abri a porta do banheiro, disse bom dia ao hipopótamo que estava sentado na privada, e dei aquela examinada nas olheiras que cobriam parcialmente minha maçã do rosto.

Foi então que percebi que algo estava errado. Não que tivesse achado estranho um hipopótamo sentado na minha privada. Estranho é que ele respondeu ao meu bom-dia. Nunca soube de hipopótamos falantes. Mas esse falava!

-- Bom dia! - disse ele - Se bem que com essas olheiras e esse bafo de cachaça que você está exalando, presumo que seu dia não vá ser dos melhores.

Olhei com o rabo-de-olho para o bicho sentado na privada e, meio sem jeito, perguntei:

-- Err... Você é um hipopótamo certo?
-- Certíssimo! - disse ele.
-- E você fala?
-- Português, inglês, espanhol e estou aprendendo esperanto.
-- E o que você faz aqui, no meu banheiro?
-- Cocô!
-- ! Um hipopótamo poliglota defecando na minha privada! Definitivamente não devia ter comido aquela última azeitona! Como você entrou?
-- Humpf! Ainda dizem que são os únicos animais racionais... Pela porta, ora bolas!
-- Hmmm, é verdade. Cheguei tão bêbado que esqueci de trancar a porta. Vou escovar o dente na pia da cozinha. Não vou escovar meus dentes aqui, com um hipópotamo cagão!

Peguei minha escova de dentes, o creme dental e fui para a cozinha. Ao terminar minha higiene bucal, voltei ao banheiro com a certeza de que aquela alucinação não estaria mais lá. Em parte, eu estava certo. O hipopótamo não estava mais "no trono". Estava tomando banho.

Entreguei os pontos! Tirei o pijama, vesti o terno e, antes de sair, gritei da porta do banheiro:

-- Tô indo! Quando sair, tranque a porta e deixe a chave na portaria!!!
-- OPA! Tchá comigo! - respondeu ele - A ! Posso usar um pouco do seu perfume???

Não respondi. Simplesmente fechei a porta do banheiro e fui trabalhar, ainda morrendo de vontade de urinar.

1 comentários:

Edson Massaru disse...

Acho que essa correria do casamento tá te fazendo mal !!!!
Se precisar de alguma coisa me liga !!!! rs....
Abraços !!!!