18.6.04

Insônia

Astolfo sempre gostou de dormir. Durante a semana almoçava em quinze minutos, deglutindo a comida como um alucinado, apenas para poder aproveitar os outros 45 minutos de seu intervalo para cochilar no banco de uma praça, perto de onde trabalhava.

Nos finais de semana, Astolfo dormia invariavelmente até às 5 horas da tarde.

Porém, certa noite ao chegar em casa Astolfo tomou banho, vestiu o pijama, escovou os dentes e... Não dormiu. Rolava na cama de um lado para outro e nada do sono chegar. Naquela noite, Astolfo sequer cochilou.

No dia seguinte, após o almoço, foi até a praça e, no aconchego do seu banco, Astolfo não conseguiu pregar olhos.

E foi assim durante a semana inteira. Não dormia. Passava noites em claro, via televisão, tomava Maracujina, leite quente, chá, calmantes, tentava de tudo, mas não dormia. Suas olheiras estavam enormes, parecia ter levado uma surra. Já não trabalhava direito, não conseguia se concentrar.

No final de semana a insônia não deu trégua, permaneceu ali. Astolfo alugou filmes iranianos, assistiu novelas mexicanas... Nada resolvia.

Na semana seguinte, Astolfo não teve dúvidas, iria acabar com aquele mártirio. Chegou em casa com um pacote debaixo do braço e, depois de tomar banho, colocar seu pijama listrado e escovar os dentes, Astolfo abriu o pacote, pegou o 38 que comprara naquela tarde, posicionou o cano na sua boca e disparou.

Enfim, conseguiu descansar.

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