20.5.09

Elevador

Eu aguardava pacientemente no saguão do prédio enquanto o elevador descia os 22 andares até o térreo. Eram 3 elevadores naquele edifício, mas como de costume apenas um deles estava funcionando naquele momento. Apesar disso, eu era o único a esperar o elevador, mesmo sendo um horário em que geralmente o tráfego de pessoas no edifício é intenso.

Na verdade, eu não era exatamente o único ali. Havia um senhor de terno e chapéu pretos, encostado na parede próximo a um dos elevadores que não estava em funcionamento, o mais distante do único elevador a funcionar. Talvez estivesse esperando por alguém, pensei, e não dei muita atenção.

Alguns minutos depois, o elevador chegou ao térreo. Para meu espanto, a porta abriu e não havia ninguém dentro. Encaminhei-me para o elevador e foi então que ele disse, em um tom de voz calmo, porém firme:


-- Ei rapaz!

Instintivamente, segurei a porta do elevador e olhei ao redor. Imaginando que alguem estivesse pedindo para que eu segurasse o elevador. Não vi ninguém, além do senhor vestido de preto.

-- Estou cansado disso. - Disse ele

Ainda sem entender, olhei em sua direção, abri o meu melhor sorriso tentando ser simpático e disse:

-- O senhor vai subir?
-- Não, meu rapaz. Não vou a lugar algum. Mas estou cansado de ser ignorado. - Disse ele, caminhando na minha direção.
-- Desculpe-me... Não entendi. - Respondi, meio desconfiado e já sem o sorriso estampado no rosto.
-- Eu disse que estou cansado de ser ignorado. Tudo bem que eu estou aqui, mas mesmo se eu não estivesse, ninguém se importaria.

Pensei em simplesmente entrar no elevador e apertar o botão para fechar a porta, mas ele já estava próximo demais e conseguiria interromper o fechamento da porta do elevador. Se ele fosse algum tipo de maníaco homicida era melhor não irritá-lo, e sim tentar apelar pra psicologia.

-- Err... Bom dia! - Disse eu, estampando novamente o sorriso, desta vez um pouco amarelo - Estava com a cabeça na lua. Que falta de educação a minha. Deveria tê-lo cumprimentado.
-- Não é disso que falo, rapaz. Estou dizendo que ninguém respeita os avisos. Me desdobro para conseguir estar em tantos lugares ao mesmo tempo, mas as pessoas não dão a mínima.

Ainda sem entender, percebi que não havia mais saída. Restava-me ouvir o que ele tinha pra dizer, deixá-lo desabafar e torcer para que eu saísse vivo dessa loucura.

-- Veja, mandei até fazer essas plaquinhas, mas ninguém a entende. - Continuou o cara do chapéu - Ninguém verifica se estou aqui.
-- É complicado, não é mesmo? - Perguntei, meio que pisando em ovos.
-- Por favor, apenas me diga que daqui em diante você irá verificar, sempre. - Disse ele num misto de ordem e súplica.
-- Mas... Mas é c-claro senhor! Pode contar comigo! - Gaguejei.
-- Muito obrigado, meu jovem... - Ele estendeu a mão para mim e perguntou - Qual é o seu nome, rapaz?
-- Eduardo, senhor. Pode ter certeza que irei verificar sempre! - Ainda sem ter certeza do quê.
-- Obrigado, Eduardo. Fico muito feliz com sua colaboração. Bom dia para você.

Ele voltou para o canto onde estava, cruzou os braços, olhou em minha direção e sorriu. Entrei no elevador, apertei o botão do 8° andar e ainda meio sem entender, fiquei olhando a porta do elevador se fechar diante de mim. Segundos antes da porta se fechar por completo, num impulso apertei o botão de abrir a porta, coloquei a cabeça para fora do elevador e perguntei ao senhor de preto: -- Desculpe-me senhor, mas qual é mesmo o seu nome?

Ele novamente sorriu e disse: -- Meu nome é Mesmostóles, meu jovem. Mas prefiro que me chamem de Mesmo.

3 comentários:

Wagner Alves disse...

É isso aí você está caminhando para um lugar maior. Confesso que fiquei meio confuso, mas é aí que está a graça.

Eduardo Junqueira Ferreira disse...

Há uma piada escondida aí... A diversão é abstrair, seguir as pistas e entender o porquê deste final.

Valeu pelo comentário!

Unknown disse...

...verificar se o MESMO encontra-se parado ... hum